segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

certas relações

Corri para o banheiro no momento exato. Seria apenas um caso a mais de relaxar a vontade da bexiga se meu pobre puro coração descartasse certas banalidades. No banheiro me despi, por primeiro o laço da calça folgada azul marinho, por seguinte a roupa íntima levada com ajuda manual até o calcanhar. Ainda de pé abri minha bolsa, peguei o Iphone e coloquei os phones de ouvidos nos *mesmos. A change de mudar o dia, no mesmo dia, me pareceu oportuna. A música invadiu o mundo e meus pés cansados continuram. A poucos minutos de uma mesa de bar com certos comuns amigos que pouco me agradavam no momento, de papo, de vida e companhia, transformaram a experiência ruptória do presente como a maior esperença real da felicidade, do prazer verdadeiro: fazer xixi. A vontade expressada, o leve sorriso, o gozo solto. O som letrado revelava a música momental: A paz invadiu o meu coração, num instante me encheu de paz, como se o vento de um tufão arrancasse meus pés do chão, onde eu já não me encontro mais...

* Minha mãe sempre usava essa expressão em seus textos, tipo: "Sra. Professora, Minha filha está autorizada a participar do evento da vossa escola...onde a mesma também pode participar da festa com os amigos de classe." Achava o termo estranho e arcaíco , hoje me vejo usando o mesmo com pertinencias e gerúndios.

sábado, 19 de dezembro de 2009

liberdade

Quando era menor não sabia o que era liberdade, e pouco me importava em saber, pois não a desejava. Quando me considerei maior percebi que a tal liberdade impensada era uma precisão que deveria ser sabida e conquistada. Quando soube que a liberdade só era de conhecimento de quem a vivia de fato, já era livre e grande o suficiente para entender que essa tal liberdade dá livre acesso na mesma medida que aprisiona.
Caro 2010,

Me apresento por:
Patricia Lio,
Pessoa dedicada a amar o novo como o passado sempre viu,
novata, diferenciada com espectativas inesperadas,
preparada a fatos ruins e bons com a mesma intensidade,
licenciada a viver dia a dia, com reclamações pertinentes,
calorosamente amiga das manhãs, noites, luas e eclipses,
acostumada com invernos loucos e verões constantes,
apaixonada por pares,
amorosa com ímpares,
leviana com a rotina,
predestinada a vida...
cheia de esperanças de te encontrar.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

só por essa noite

quem serei eu esta noite?
não faço a menor idéia.
pretendo ser uma mulher atraente, dona da própria vontade, cheia de simpatices
o que serei mesmo pode ser contrário aos meus anseios, ou algo imaginável
serei feliz? triste? amendrontada? sorrirei? surtarei?
sã, viva, sobria, inóspita?
da noite eu espero, e só saberei quem serei quando esta chegar no final

... soube...

dia dos mortos

Li a pouco uma crônica do Affonso Romano de Sant'Anna sobre o dia dos mortos. O autor sugere no texto que o dia de finados poderia ser totalmente inverso do que é, ao invés da nossa viva visita nos cemitérios, por que não o contrário?
Seria assim: Os mortos teriam esta data para visitar os vivos. Enquanto isso, nós sabedores deste fato , arrumaríamos a casa com tudo que o defunto gostaria de encontrar, comida, bebida, jornal, filme, fod...tudo que lhe apetecesse, e caso não quisesse ficar em casa programariamos passeios, viagens, sei lá, cada um deveria saber o gosto do seu morto. Que delícia seria, mas segundo Sant'Anna, existiriam regras para este dia, nada de perguntas sobre a vida, ou não, no além. Na minha imaginação já coloco essa regra como condição para próximas visitas, se a regra fosse quebrada o visitante estaria suspenso de participar da vida terrena no única dia que seria possível de fazer. Não sou severa, mas acho que o mistério além vida deve permanecer, o gostinho de não saber o dia de amanhã é bem divertido. Religião é outro assunto proibido de tocar, contiuaríamos acreditando em nossos credos, idependente de inferno, céu, ou vazio.
Poderíamos usar esta data para aproveitar nossos queridos defuntos pra curtir o que em vida não foi possível, e matar saudades, um dia inteiro para remoçar.
Como acho pouco provável esta idéia acontecer, sugiro que aproveitemos pelo menos algum dia do ano para encontrarmos figuras em carne em osso que por falta de tempo insistimos em deixar pra depois, e rememorar acontecimentos bons, amigáveis, desprentensiosos, sem egos e problemas . Talvez Sant'Anna quis me passar isso, foi exatamente o que captei. E aos mortos deixo minhas sinceras lembranças e sonhos de um dia encontrá-los.

sábado, 28 de novembro de 2009

estranho amor

O fim me causa arrepios. Vê-lo como um estranho é mais cruel que não vê-lo.
Não sei mais quem és, quem sou, viramos outros que não somos, viramos uma página, uma vida em comum.
É o final do amor? Se fosse estaria vazia, a dor não me preencheria, a saudade do nosso tempo passaria, passaria, o momento seria momento.
Acabou, e há muito que lamentar, chorar o fim pelo tempo que parecer ideal.
Estranho amor, te odeio, te amo, te esqueço, te ignoro, te lembro...
A partir daqui somos nossa independência proclamada, somos sorrisos que almejamos provocar no futuro, o pranto que tentamos esconder, e as lembranças que cabem apenas a nós dois.
Agora pertencemos a cada um de nós.
Pra sempre amor de sempre.
Espero que a vida me dê outra chance de encontrar um amor que odeie futebol e me ame com a inspiração feroz de um respeitoso tarado. Continuo como um fantoche dos meus desejos.
O meu pior sentimento por você será a indiferença. Enquanto te amar e odiar sem dúvidas, te ofereço meus melhores sentimentos.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

eros e psique









    Conta a lenda que dormia
    Uma Princesa encantada
    A quem só despertaria
    Um Infante, que viria
    De além do muro da estrada.

    Ele tinha que, tentado,
    Vencer o mal e o bem,
    Antes que, já libertado,
    Deixasse o caminho errado
    Por o que à Princesa vem.

    A Princesa Adormecida,
    Se espera, dormindo espera,
    Sonha em morte a sua vida,
    E orna-lhe a fronte esquecida,
    Verde, uma grinalda de hera.

    Longe o Infante, esforçado,
    Sem saber que intuito tem,
    Rompe o caminho fadado,
    Ele dela é ignorado,
    Ela para ele é ninguém.

    Mas cada um cumpre o Destino
    Ela dormindo encantada,
    Ele buscando-a sem tino
    Pelo processo divino
    Que faz existir a estrada.

    E, se bem que seja obscuro
    Tudo pela estrada fora,
    E falso, ele vem seguro,
    E vencendo estrada e muro,
    Chega onde em sono ela mora,

    E, inda tonto do que houvera,
    À cabeça, em maresia,
    Ergue a mão, e encontra hera,
    E vê que ele mesmo era
    A Princesa que dormia.

    Fernando Pessoa

outubro distante

Em outubro calei as palavras, momento de perguntas e respostas. Retomo o blog com minha recente indagação:
A felicidade plena precisa de uma terna tristeza?

um presente a mais

Um dia parei pra pensar no presente, não consegui. O presente esquivou-se como um repente, pareceu contínuo e partiu. Consultei um breve momento e o tempo assim se aproximou em nível absoluto. Calei-me para tentar persuadi-lo mas o relógio inquietado de sempre pontuou seu tom em segundos. A irritação tomou-me a conta e disparou contra minha busca temporária. O tempo pareceu passado, saudoso, ilusório e futuro. Nem por isso parei de me sentir em casa, as lembranças e os sonhos continuaram a vida instante.
O presente sempre no caminho. Sou presente, impossível percebê-lo. Um presente a mais.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

carta de amor

Todas as cartas de amor são ridículas...

Júlia encorajada com seus 30 anos foi adiante e seguiu com palavras em uma carta de amor ridícula, como tantas outras:
Caro Vitor,
Te peço pra ouvir-me por um instante, talvez alguns minutos sejam suficientes.
Não se evaideça com meu amor, não há mérito algum seu nisso. Meu amor subsiste na sua existência, você existe e por esse motivo te amo, e isso não depende em nada do seu querer, muito do meu. Mesmo com as ilusões mortas te amo melhor, livre de utopias. O amor tornou-se calmo, sereno, real, o que não me insenta da dor. Hoje vivo um sofrimento valente e corajoso, enfrento a tragédia com plena convicção da destruição como certeza do desfecho do divino destino do amor. Te peço um grande favor, não me encontre como pessoa qualquer, me tenha importância se não existir amor, e se presente o tiver empalideça seu rosto ao me encontrar e core em seguida na mais romântica recíproca.

...não seriam cartas de amor se não fossem ridículas...só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor é que são ridículas...(Álvaro de Campos - Fernando Pessoa).

terça-feira, 15 de setembro de 2009

entrelinhas

Tinha acabado de almoçar com a equipe de gravação, corri antes de todos terminarem a refeição e fui pagar a conta (produtora sempre cuida de quase tudo e antes de todos), e segui para a frente do restaurante a tempo de fumar. Delicadamente rápida peguei o cigarro e visualizei o esmalte das unhas vencido, fugi dos detalhes. Com a intenção de desacelerar meus pensamentos e a adrelina, acendi o cigarro e quedei-me parada a curtir a paisagem urbana e um pequeno senhor com seu andar vagaroso. Ele firmou seu olhar no meu, pensei que fosse me recriminar por estar fumando, ou simplesmente me cantar. Não, nada disso. Com minha cabeça voltada para os furacões negativos do dia a dia só podia pensar besteiras, o senhor me pediu licença e disse:
- Minha jovem, não pude deixar de admirar você tragando este cigarro com tanto sabor, parece estar delicioso. Aproveite menina, a vida é muito rápida pra ser pequena!

A emoção tomou minha conta, e o sol, as flores e as pessoas ficaram bem coloridos neste dia.
E a vontade de deixar o vício veio junto a de aproveitar a vida por muito mais tempo.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Bomba Magnífica



A Bomba Magnífica ecoou nos ouvidos do menino e sua mãe. Eles pularam e desembestaram para o banheiro, onde a luz foi suavemente interrompida. Por quem? Quem apagou a luz ? Quem os deixou na escuridão?
Logo o menino esperto viu um morcego. Como ele viu, se estava escuro? Com olhos infra-vermelhos? Esse menino possui muitos mistérios.
O menino Hugo e sua mãe maluca se abraçaram de medo, até que um dedo qualquer acendeu a luz. Tudo voltou ao normal, não fosse o pequeno Hugo assustar o morcego que ninguém achou. Será verdade que esse morcego existiu mesmo? Ou o pequeno blefou com sua mãe maluca.

Texto de Patricia Lio em parceria com Hugo Lio Chaves.

terça-feira, 1 de setembro de 2009


Falar de amor sempre me faz lembrar de coisas que ninguém viu. Milton Nascimento me canta Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor e ouço com todas minhas razões fantásticas. Ninguém vê, ouve, sonha. Por que não viveria este dia se ele veio pra mim? Por que ouviria uma música e deixaria de escutar? Me deixe, preciso um pouco de insensatez, pois tenho muito a perder... ilusão? Pouco parece ser real, só vejo o que me interessa.

quando entrar setembro

Gosto de olhar as luzes dos prédios vizinhos quase todas apagadas. Mal escuto o som corrente dos carros e motores. No momento desisto de tentar uma nova conversa e o doce silêncio me deixa a sós, ouço sem mágoas barulhos surdos dos meus dedos no teclado. Acho que chegou setembro, com seu tudo e nada. Hora de soltar os balões, frases e paixões. Um caminhão barulhento, agora, não tem vergonha de zumbir minha sala inteira gerundiando todas as pertubações que o silêncio atura e suporta sem glória. Posso deixar pra lá os infortúnios acasos.
Setembro chegou, sempre foi meu mês predileto. Ele sempre vem pra me causar, povoar minha idade, minha vida e aspirações, completar meus anos incompletos e começar meus anos adiante. Mês da primavera, setembro, lindo setembro. Flores, flores e mais flores.
A todos os setembrenses lisongiosos parabéns.

sábado, 29 de agosto de 2009

vida dos outros

- Você não serve nem pra morar na rua!!!
Comentário de um morador de rua no centro de São Paulo em discussão alterada com outro morador de rua.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009


...se eu pudesse ter duas vidas, a minha ficaria e a outra fugiria...

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Matisse + Baudelaire
















Convite à viagem

"Minha criança, minha irmã,
Pense na doçura
De irmos para lá, vivermos juntos!
Amar à vontade,
Amar e morrer
Ao país que se parece contigo!

Os sóis molhados
Desses céus embrumados
Para o meu espírito têm a atração
Tão misteriosa
Dos teus olhos traiçoeiros,
Brilhando através das tuas lágrimas.

Lá, onde tudo é ordem e beleza,
Luxo, calma e volúpia.

Móveis brilhantes,
Polidos pelos anos,
Decorariam nosso quarto;
As flores mais raras
Misturando seus odores
Às sutís essências do âmbar,
Os ricos tetos,
Os espelhos profundos,
O esplendor oriental,
Tudo isso falaria
Em segredo à alma
Sua doce língua natal.

Lá, onde tudo é ordem e beleza,
Luxo, calma e volúpia.

Veja nesses canais
Dormirem essas naves
Onde o humor é vagabundo;
É para saciar
Teu menor desejo
Que elas vêm do fim do mundo.

- Os sóis poentes
Revestem os campos,
Os canais, toda a cidade,
De jacinto e de ouro;
O mundo adormece
Numa cálida luz.

Lá, onde tudo é ordem e beleza,
Luxo, calma e volúpia."

Charles Baudelaire

tradução: Eduardo da Costa
ilustração: "Luxe, calme et volupté", por Henri Matisse

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

você não escuta o que digo

Na calçada da Praça Roosevelt num happy hour sossegado, com mesa reservada para fumantes, tomava meu primeiro copo de cerveja quando surgiu um comentário de um casal de velhinhos passantes:
-Você nunca me ouve. Você está sempre distraído.
Disse a senhora.
- Eu não ouvi, eu não ouvi...
Completou o senhor.
Era tudo que eu precisava pra um começo de noite boêmia.
Que senhora gentil, pensei. Se fosse eu tinha dito:
-Seu ingrato você não ouve nada do que digo, nem presta atenção no meu cabelo, só quando tá branco. Lavo suas cuecas e todo o resto das suas roupas, cacete. Te dou de comer, de beber, de vestir . Eu desisto, não quero mais viver anos e anos com uma pessoa que não me escuta, não me vê, só quer me comer. Prefiro minha solidão com todos os anos de menopausa. Mesmo assim te amo, meu velho surdinho.

Ah! homens insensíveis aos eternos hormônios femininos.
Ah !mulheres ingênuas em acreditar nos homens sensíveis às tortuosas linhas femininas.
Ai minha nossa senhora maria da silva nunes fonseca !!!!

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

2009

Enfim Agosto. O ínicio do ano passou, começo a andar para o final.
Já não me interessa o que escrevi, o que pensei e vivi.
O ano começa nesse momento.
Apago o futuro, escrevo o presente, e dou uma canelada no passado.
Um brinde a 2009 .

quarta-feira, 29 de julho de 2009

solidão fria

Inverno frio e chuvoso. São Paulo. Estou há três anos morando aqui.
No primeiro ano achei o inverno delicioso, uma novidade pra quem passou a vida quase toda numa cidade onde só a estação verão predomina o ano inteiro. No segundo ano senti o inverno como algo legal e natural, havia de passar por ele, por que reclamaria? Este ano, o terceiro, me deixei contagiar pela depressão dos dias frios e curtos, do sol tímido entre nuvens nebulosas. Essa sensação não é minha apenas, fácil notar todos um pouco mais ranzinzas e reservados. Nesta época do ano, quando a luz solar aparece por vezes, 17h00 da tarde começa a desaparecer. A noite fica interminavelmente longa. Noite sem fim, classifico. Infelizmente vou começar a contar os dias, meses, anos, a deixar este belo e charmoso lugar. Preciso de luminosidade, dias longos, noites breves. Pode ser que na primavera eu mude de idéia e no próximo inverno volte a encontrá-la. Enquanto isso conto com o caloroso sabor do vinho e dos amigos.
Escrevo mais.
Solidão fria. Os ventos do Norte me batem mais forte.

beira do planeta


Nunca tinha parado pra pensar na beira do planeta. Mas um amigo me fez refletir sobre o assunto, após um comentário seu dizendo que queria se jogar da beira do planeta. E o planeta Terra tem beira? perguntei. Ele respondeu, lógico que sim, mesmo em formato redondo, o planeta é um pouco achatado e existem partes de beira. Tá, concordei, tudo bem que existe a beira, mas é impossível se jogar dela, sem parar onde se pulou, a gravidade não permite você se jogar de lá. E outra, mesmo desconsiderando o poder da gravidade, vai ter que passar uma vida de calculos para conseguir encontrar esta tal de beira. Vai dar um trabalho horrível, fora ainda descobrir que a beira se localiza no fundo do oceano ou no alto de uma montanha gigantesca. Disse que ele não tinha o que fazer, e que se quisesse morrer que se jogasse do alto de um prédio, menos complicado. Ele disse que em nenhum momento havia pensado em morrer, apenas queria se jogar da beira do planeta. Conclusão: encorajei-o a estudar estes cálculos complicados, encontrar a beira do planeta, e se por sorte, for em lugar plano e de fácil acesso, colocar uma cadeira ou uma escada e pular. Pronto, assim fica mais fácil se jogar, sem se machucar tanto.
Que conversa maluca de bêbados saturados de assunto. Minha nossa, eu mereço gastar meu intelecto com questões deste nível?

quarta-feira, 22 de julho de 2009

saudades

Saudade dos infernos!!!!!!
Quero meu docinho agora.........
Meu doçunildo. Suas conversas filosóficas, sua doçura pueril, as respostas afiadas e coerentes, e sua doce presença de madrugada na minha cama. Quero ele lendo um parágrafo do meu livro e uma página inteira do seu. Quero sua pele macia me dando um beijo a qualquer momento.
Quero meu filhote.
Quero contar-lhe como foi meu mês e minha vida inteira. Quero ouvi-lo falar o que lhe der vontade de dizer. Quero fazer o bolo de chocolate que mais gosta. Quero cantar: me dê a mão vamos sair pra ver o sol...a chuva...o cachorro...Quero rir com ele, rir dele, rir de mim com ele, ouvir sua risada. Quero correr no corredor pra ver quem chega primeiro, acordar mal humorada e feliz arrumá-lo pra ir pra escola, brigar pelo simples fato de ser mãe e querer seu melhor, acalentar seu choro de dor após uma queda no parque, dar-lhe de presente o mais feliz sorriso....quero meu filho de volta das férias.
Basta eu esperar mais 7 dias, desconsiderando os outros incontáveis que já vivi com sua ausência. Esperarei mais ansiosa ainda. Meu filhote faz parte 6 anos da minha vida, tirando os meses de gravidez.
Talvez eu seja como uma mãe qualquer, mas como toda mãe não fujo do clichê de achar que meu filho é o mais amado de todos.

pra ler ouvindo sweetest thing

Tentativa:
I-Um toque, uma música, uma cena. Mais doce que meus olhos.
Sentado no cinema te vi assistindo Paris. Na poltrona ao lado, assumi meu lugar. Segurei firmente seus longos dedos e uma purpurina leve caiu em nossas cadeiras, nossos casacos sacudiram sem furtar o colorido. Senti a encorajada mão esperada aquecer o meio das minhas coxas, provei do veneno febrío ao morder um pedaço do seu pescoço. O filme virou breu. Suspeitei da minha loucura disfarçada. Mal podia enxergar algo, só seus olhos.

Poderia escrever de outra maneira? Vou tentar.
II-Te vejo sentado no cinema, olhando o filme. Me perco no teu olhar, vejo todas as cenas, sinto as trilhas, através dele. O calor das tuas mãos entre minhas pernas me colocam em suspensão momentânea. Mal posso enxergar e teus olhos resplandecem o cheiro do teu pescoço. Uma mordidinha pra sentir teu veneno. Tua barba no meu rosto e suspeito minha loucura. Louca de amor? Um cineminha inesperado me faz te sentir desse jeito? Mais doce que meu olhar? Você estava lá, com os olhos sem parar um minuto de falar. Eu ouvia seu tédio. Doces olhos. Suspirava acostumada.

Talvez teria outra forma de contar?
III-Ele estava lá, mais doce que meu olhar. Parecia toda a verdade, ensolarado de dúvidas, e enluarado de verdades. Soprou um sabor inexistente. Eu desatenta a mirar-lo no cinema, morria sem suspeitas. Ele tinha na visão o filme, através dela consegui compreender a história. Ele, encorajado, aqueceu suas mãos entre minhas pernas, eu abobalhada suspirei acostumada. Seus olhos não pararam de falar, e eu ouvia seu tédio. Doces olhos. Seus olhos me guiaram para o sempre amor, até me deparar com eles fechados. Sucessivas manhãs cegas. Eu acreditava que esses olhos fossem pra sempre me acordar.

Vou tentar uma melhor:
IV-Mais doce que meu olhar.
Estava te vendo desatento em uma cadeira de cinema. Sua visão era do filme, a minha era a sua. Pelos teus olhos consegui ver a história, nosso filme. Sua mão encorajada se aqueceu entre minhas pernas. Seus olhos não paravam de falar. Falavam de Paris, da morte, da vida, da calada noite fria, de você. Peguei seus dedos e me deparei com seus olhos fechados, continuei acreditando neles. Doces olhos. Por que tudo arrabenta no amor?
Seus olhos me levaram até ele, e o amor creditou-me morrer sem eles.

visões do 16 andar... radial leste


Na grande avenida, há poucos carros que a percorrem sem saber pra onde vão. A porcentagem é tão pequena que nem entra nela. Alguns carros, a maioria, correm na velocidade máxima, e certos até a ultrapassam. Correm, correm, vão, vão. Pretendem chegar a algum lugar. Uns de cor e salteado, outros no sentido das placas. Uma pequena parcela está errada do caminho, mesmo assim vão, tem de ir. Não é permitido parar, nem acostamento existe. Seguir direto, ou desviar à esquerda, ou à direita, é obrigatório . Retornar quiçá bem lá na frente. Acostamento inexistente. Parar pra dar um beijinho, pedir uma informação, nem em sonho. Semáforo será encontrado em vias transversais. Se precisar parar vire na próxima entrada à direita. Talvez um assalto, em caso provável de congestimento, lhe tire a tranquildade sem temor, com um vidro quebrado, e algo furtado. A via é expressa, só vai quem sabe onde quer ir. Não importa se desconhece a forma de chegar, ela te leva no lugar pretendido. A via serve pra quem sabe onde quer ir, conhecendo ou não o caminho, o fundamental é saber pra onde vai. Se você quiser ir pra Outro Lugar, esqueça a via, o carro, ande do seu jeito, viva seu momento. Espero você chegar.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

rindo à toa

Uma noite memoravel para viver e para saudosear outras.
Num passeio na Vila Madalena, reduto da boemia paulistana, encontrei amigos especiais, falei égua e escangalhado sem me preocupar com o entendimento alheio. Ri muito com meus velhos e novos amigos. Que doce prazer rir à toa, com pessoas especiais nem se fala. Conversamos sobre amor, comidas, futilidades, viagens que pretendemos realizar, e ainda fui presenteada com um livro de Clarice Linspector, A paixão segundo G.H. Encontrei Seu Jorge tentando tomar um chope e comer um torresmo no anonimato como eu, mas desistiu e foi embora com sua solidão frustada de artista famoso. A noite terminou com todos na casa da minha amiga chará, com leitura de Martha Medeiros, boa música, e uma linda surpresa: o quadro A Dança de Matisse sorriu pra mim na sala de estar. Não pude deixar de continuar rindo à toa. O amor está em todo lugar, o amor dos amigos, das conversas e das saudades.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

credibilidade

Estou cansada das mentiras que somos obrigados a consumir. Tipo comercial de hidratante, onde uma loira rica e famosa nos garante que usa e ainda deixa sua pele macia. Me poupe. Uma celebridade rica e linda vai usar um hidratante que vende nas prateleiras de supermercado, que custa uns R$ 8,00 no máximo? Pra quem não sabe, quando você compra um produto, o preço da propaganda está incluso nele, ou seja, pagamos cachês altissimos para que certos artistas encham nossos momentos de lazer com mentiras cabeludas. Mas não é só isso que me incomoda, eu desisti de assistir canal aberto, e pago literalmente um preço mais alto para usurfruir de uma programação mais selecionada. Mesmo assim, o pouco tempo que dedico a televisão não me livra dos filmes publicitários de última. Uma situção a mais me causou um sério desconforto quando assistia a um programa de entrevistas com uma beldade baiana. Sou fã de programas do gênero, não da cantora em questão. Ela disse que leva uma vida com uma alimentação saudável, com exercicios fisicos e tal, e que não gosta de bebidas alcólicas. Prestem atenção, a pessoa citada não consome bebida com alcool. Até ai tudo bem, acho de certa forma louvável uma vida com pouco ou nenhum excesso, se não fosse o comercial no bloco do programa mostrar a mesma figura em uma propaganda de cerveja, fazendo analogia do produto com diversas sensações gostosas da vida. Não me lembro se ela chegou a tomar um gole, sei que segurava o copo ou a garrafa da cerveja. Que fique claro, não sou contra a publicidade, até em parte vivo disso também, só acho que nós telespectadores, público-alvo, cliente, qual seja a definição, não somos tão burros. Chega de subestimar o público. Já que faz parte do pacote, na grade da programaçao televisiva, nos cinemas, nas revistas, e etc, que a publicidade tenha um minino de responsabilidade com a inteligência alheia. Credibilidade é o que querem nos passar, então que nos passem de fato.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

tum, tum...

(um reencontro casual de ex-namorados numa boate.)
Por quê me esqueceria destas coisas? Você bem sabe que pouco me esqueço das coisas especiais.
Claro, naquela época meu cabelo era encaracolado, aliás, no dia que começamos a namorar eu vestia calça bege e blusa de crochê marrom. Meus seios transpareciam na blusa? Ah, que vergonha, disso nem sabia, hahaha. Imagino então sua paixão repentina por mim. Tá bom, eu era uma garota especial, até acredito que era uma garota...mas especial, na época duvidava muito. Lembra quando você viajou pra Natal? Cara, fiquei muito tranquila, desde àquela época já tinha a mente aberta, pouco me incomodava com chifres. Sei, infelizmente não deu tempo disso, você adoeceu e teve que voltar correndo pra mim, fiquei muito feliz em te rever, mesmo vendo você todo empipocado de catapora. Hahaha, você ficou um gatoooo!!! Depois que terminamos? Na verdade quem terminou foi você, sofri muito na época. Claro que te amei, você não? Ah bom, pelo menos a recíproca foi verdadeira. Depois que terminamos conheci outros caras, me apaixonei de novo, e te esqueci. Claro que esqueci, por que me lembraria? Não vem com esse jeito, hoje tenho os pés no chão. Peraí, tem gente olhando. Você sabe que meu cabelo sempre foi cheiroso. Dá pra largar minhas mãos? Me solta, não quero. Por que não quero? adivinha... Sei que teu beijo é ótimo, mas não vou te beijar, dá pra não insistir? Tá bom, eu danço essa música, só essa, mas não esconta tanto. Não acredito que você pergunta se sinto saudade, lógico que não. Cara, peguei o trem e fui parar em outra estação. Adoro essa música...tum, tum, bate coração. Você dança tão bem, tinha me esquecido disso. Aii, assim fico arrepiada. Se gosto? Não deveria, mas é bom, não nego. Pera, não posso, sou noiva. Ahhh, só um beijo vai, mas em off...

sem juízo - I PARTE

...Quando ele me olhava assim inteira, sentia minhas pernas trêmulas e minha boca tímida. Ele não sabia o perigo que estava correndo. Assim mesmo me olhava os defeitos e virtudes, molhava meus pensamentos ocultos...

Claudio não só veio do sertão como sabia muito o que fazer nas terras gaúchas. Ganhar garotas loiras e brancas virou seu greencard na região. As meninas calavam com sua boca rosada e carnuda. Claudio com sua estatura mediana, pele clara, e cabelos devidamente ondulados, olhava cada presa em partes divididas, primeiro as pernas, em seguida as mãos, os seios, os cabelos. Evitava os olhos, preferia não se apaixonar.
Eu um dia andei passando na sua frente, na verdade dançando. Um blues desavidado e pertinente alcançou nossos caminhos. Uma música francesa. Eu ia , ia, ia. Monsieur cantava. Vi seus grandes olhos sensuais e continuei o balé até seus braços. Meus cabelos negros em disparate aos seus anseios, denuciaram uma bela guria. Desavisados estávamos.
Demorei a entender a angústia de Claudio. Ele tomou as rédeas da minha vida e me levou a lugares que nunca imaginei conhecer. Meu corpo atravessou a barreira do pudor e em sigilo reuniu os todos prazeres indefiníveis de uma alma em brasa. Olhava meus olhos castanhos e acendia a natureza da paixão. Colei minha pele à dele, e sorrimos por infindáveis tempos.
Um dia qualquer, sem querer, coloquei nosso amor à prova. Uma amiga do interior do Rio Grande do Sul adentrou minha história quando ingenuamente em conversa por telefone implorou-me uma temporada curta na minha casa. Por problemas quaisquer Vânia precisava passar uns tempos nos ares da capital gaúcha. Claudio reclamou a invasão de nossa privacidade, mesmo que por período curto. Torci o nariz até ele aceitar tal imposição.
Até então não costumava me arrepender por nada. Aceitava os erros como parte insdispensável de um saudável amadurecimento. Mas quando notei a suada angústia de Claudio ao ver Vânia, bela loira de tez e seios rosados, quase virgens, me senti desesperadamente arrependida.
Claudio desde que me conheceu, ignorava as loiras e qualquer mulher que pudesse acalentar seus sonhos masculinos. Seus sonhos sexuais e amorosos perteciam a mim, e lhe sobravam gozos e vaidades.
Vânia surgiu pra provocar a natureza humana. Entrou leve numa quarta-feira de maio, com um vestido bege e provocante. Abriu um largo sorriso e beijou meu rosto demoradamente. Claudio de espanto sentou no sofá e suou a testa.
...

sexta-feira, 26 de junho de 2009

ao meu velho casal

Se eu pudesse atravessar o tempo e parar onde meu pensamento pensa...
Ainda não posso me transportar.
Bem faz o arrependimento em não matar. Seria eu e mais uma legião de defuntos prematuros.
Nada paga um dia feliz, nem dois, nem mais. Minha solidão anunciada tira dores e conclusões que vidas com mais sorrisos equivalem a dias melhores.
Enquanto a dança valsa nos sonhos românticos, fortaleço meus olhos ao amor. Esse vale todas as canções da vida. Parabenizo o amor! Que seja eterno enquanto cumprir seu destino.
Marjorie e Therence, fico devendo a mim um dia que não vou poder desculpar, e recuperar.
Até as bodas...

vozes alheias

" A mulher gosta que lhe digam palavras de amor: o ponto G está nos ouvidos. Inútil procurá-lo em outros lugares." (Isabel Allende).

"Quero apenas cinco coisas..
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando." (Pablo Neruda)

"Mas o que quer dizer este poema? - perguntou-me alarmada a boa senhora.
E o que quer dizer uma nuvem? - respondi triunfante.
Uma nuvem - disse ela - umas vezes quer dizer chuva, outras vezes bom tempo..." (Mario Quintana)

"Estou na caridade da evolução do meu ser. Quero ser menina, encontro-me mulher... Quero ser mulher, vejo-me menina..." ( Ferreira Gullar)

"Há uma primavera em cada vida: é preciso cantá-la assim florida, pois se Deus nos deu voz, foi para cantar! E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada que seja a minha noite uma alvorada, que me saiba perder...para me encontrar.... "( Florbela Espanca)

terça-feira, 9 de junho de 2009

Confissão

Confesso que quando era criança queria ser veterinária e professora. Imaginava um mundo onde tudo se parecia com o querer. Adorava ensinar o que eu sabia e cuidar dos fragéis animais que me cercavam.
Confesso que quando cresci mais um pouco fiz vestibular para Direito, e por uma lógica que fui entender anos depois, não passei. Minha mãe ficou triste, mas segui meu caminho.
Confesso que quando meu pai morreu me senti vulnerável. Chorei, implorei pela sua volta. Descobri que as pessoas nascem perdoadas, pois nascem amando, e quem ama é amado, logo sempre serão perdoadas.
Confesso que me formei em Comunição Social, mesmo achando que falava pouco. Pensava que podia superar a estranheza. Continuei falando pouco e descobri a arte das poucas palavras.
Confesso que quando meu filho nasceu, senti a humanidade em mim. A humanidade me pertencia. Deixei de ser filha e me tornei mãe. Um amor pra toda a vida me pertence.
Confesso que quando cheguei em São Paulo senti medo. Solitária, constrangida. A sensação foi perdida com as conquistas do dia a dia, que fizeram da minha nova cidade um belo lugar.
Confesso que detesto machucar as pessoas, mas as vezes machuco, sem querer. Quem com ferro fere, com ferro será ferido, mesmo sem querer.
Confesso que quando me tornei mulher, percebi meu corpo modificado. A silhueta de dez anos atrás foi embora com o tempo. Mesmo assim o espelho tornou-se um amigo cavalheiro, e me apresentou a auto-estima que antes não havia cruzado meu caminho.
Confesso que Outro Lugar surgiu como refúgio dos meus pensamentos com algumas experiências experimentadas e testemunhos de conhecidos e desconhecidos. Meu mundo coube um pouco aqui.
Confesso que passaria a noite confessando. Mas tem certas coisas que ainda não confesso nem a mim mesma.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

conversa

Jornalista Pietra Oliveira entrevista o Psicólogo Patricio Lima.
Jornalista: Amor a primeira vista existe?
Psicólogo: Não. Ele simplesmente acontece, se existe ou não é um assunto pra outra discussão.
Jornalista: Como assim? Vamos discutir!
Psicólogo: Ok. O amor a primeira vista aparece primeiro, sendo que as vezes não. Antes de mais nada envolve as partes cabidas. Vale dizer que ocorre numa situação recíproca, caso contrário digo que é platônice adolescêntica.
Jornalista: Mas como saber se é recíproco, ou platônico?
Psicólogo: Díficil não me parece. Meus estudos científicos aliados aos depoimentos de alguns muitos pacientes me disseram que basta o olhar. É igual ao orgasmo, você só sabe quando sente. Se você duvida é porque não rolou.
Jornalista: Para pessoas que nunca tiveram orgasmo posso dizer que saberão do amor a primeira vista e do orgasmo com a mesma complexidade ?
Psicólogo: Claro, fique tranquila em relação a isso, no fundo é a mesma coisa. Minha filha, não tem nada demais. Apesar do orgasmo ser mais fácil do que o amor a primeira vista, posso dizer com clarividência que os dois tem quase o mesmo sabor.
Jornalista: Então podemos quebrar o mito que o amor a primeira vista só acontece uma vez na vida?
Psicólogo: Não tenha dúvida. Pode acontecer várias vezes. Posso dizer que o orgasmo é mais fácil sentir mais vezes, pois pode ser com qualquer pessoa a qualquer hora, a qualquer momento, e até sozinho. Já o amor, esse é raro, não se concretiza com qualquer um, mas pode aparecer mais de uma vez. Acontece com o mesmo glamour do orgasmo, até revira a cabeça da pessoa.
Jornalista: Você já se apaixoonou dessa forma?
Psicólogo: Graças a Deus não. Vivo ardorosamente uma vida harmoniosa, consigo conciliar meus sentimentos conforme meus amores e minhas paixões. Mas amor e paixão não estão em dicussão, são completamente diferentes. O amor quer graça, a paixão um pouco de loucura. O romântico está no meio destes dois. O amor a primeira vista não é nenhum e nem outro, é atípico. Eu graças a Deus, em minha sã consciência não vivi isso. Posso confessar meu certo receio, apesar de saber tratá-lo a outros muito bem.
Jornalista: Tem algum remédio pra não sofrer tanto desse súbito amor?
Pisicólogo: Pela minha experiência como tal, receito a vida, poesia e canção. Muitas vezes quando não tem jeito, vale viver pra ver. Tá tudo certo, enquanto houver felicidade.
Jornalista: E o que acontece com as vítimas dessa paixão insana?
Psicólogo: Eles amam demais. Creio que o remédio pra eles seja viver a paixão e o amor dentro de si. Não culpar a nada e a ninguém. Viver ainda é o melhor remédio pra quem ainda não morreu.

obs. sei que "amor a primeira vista" possui acento craseado no a, mas não encontrei o acento no teclado, ass. patricia lio.

noites de inverno

Esperou a cidade adormecer para despertar a retórica dos sonhos.
A moça da noite encontrou a lua no vão nada estrelado. Se sentia bela. Bela da noite.
Nos sonhos despertos coube andar nas lembranças azuis.
Percebeu que não poderia decidir esquecer alguém. A vida não lhe trouxera opcões: olvidar, no olvidar.
Com os lábios molhados de vinho, sentiu um beijo morno. Despiu-se com o ar frio na pele. Se o sofrimento era inevitável, porque evitaria o prazer ?
Naturalmente calçou o mais alto salto. Plues sensuel que la nuit. Misturou branco e tinto. O amor contorceu seu ventre nú.
O segredo de la noche se calou.
A bela moça perdeu a vontade de amá-lo.
A noite na cidade fria revelou a autenticidade de esquecer.
A vontade se deixa passar. Uno, dos, tres, cuatro...

quinta-feira, 21 de maio de 2009

caju, pra te lembrar

O caju, fruto do cajuzeiro, pseudo fruto. Eu, Lima Maria, sou a mistura de uma graciosa figura com uma fruta de pouca graça. Também como o caju, sou constituida de uma falsa fruta e uma castanha gostosa, comestível após duráveis horas calorosas.
Ainda não me dei conta desta história direito. Na verdade nunca pensei sobre ela. Deixei minha biógrafa discorrer bem a seu respeito. Ela me viu ardente de calor num dia de verão, socorreu meus pensamentos e me deixou fluir sem me preocupar.
Estava com a garganta derramada em sede no shopping Tatuapé, quando minhas pernas começaram a andarilhar a praça de alimentação. O almoço foi decidido antes da bebida ser escolhida. Tantas coisas a selecionar no self-service que a secura na boca foi rapidamente esquivada. O prato na balança seguiu a pergunta programada e suave da atendente: " Você quer beber alguma coisa?". Minha resposta foi pergunta. " O que vocês tem de suco?". Ela respondeu entre poucas opções, suco de caju. Suco de caju? Se não for artificial eu quero agora, e bem gelado, falei. Pois bem, fui atendida. Aquele líquido amarelo claro, refletia no copo de plástico transparente. Quando dirigi-me a mesa parecia que todos percebiam o brilho que minha bandeja resplandecia. Ai, o suco de caju, ai o caju, bela fruta do Nordeste, que também aparece no Norte do país.
Lembro aos leitores que quem escreve não sou eu. Se fosse por mim falaria do prazer de tomar o suco de caju, de pouco costume, naquele dia ensolarado de infernal calor. Mas a biógrafa preferiu ditar sensações infantis que me vagaram a mente.
Então, quando todavia era uma menina de pouquissima idade andava pelo interior, do estado do Pará, para apanhar caju com meus dois irmãos, minha mãe e pai. Este pai comandava a expedição. Todos felizes e dispostos com uma comprida vara na mão para cutucar a fruta. Algumas frutas, e as mais deliciosas, davam pra pegar com as mãos, na altura precoce das crianças pulantes embaixo do cajueiro. Outras, quase no alto celeste, só com a ponta da vara mesmo, onde precisava de um hábil aparador que não permitisse deixar o caju se espatifar no chão da terrra úmida. Por pouco, nós crianças, não subiamos no cajueiro, para pegar as frutas frescas, onde somente a vara e os passarinhos tinham acesso. A mãe perspicaz e medrosa, conseguia convencer o pai a deferir o decreto em voz alta e delicada, proibia qualquer membro da equipe de se aventurar nos altos galhos das árvores...
Essa história não acaba assim, mas a biógrafa decidiu contar o resto depois.
Não sei o porquê. Pensando melhor... talvez seja porque eu tenha também o Oliveira no nome e a história mereça um livro.

domingo, 17 de maio de 2009

Eu
eu quero
eu quero te beijar
eu quero te beijar levemente
eu quero te beijar levemente bêbada
eu quero te beijar levemente bêbada de vinho
eu quero te beijar levemente bêbada de vinho tinto.

terça-feira, 12 de maio de 2009

a dor e a menina

Como sempre eu andando nas ruas da Liberdade. Luminárias apagadas, de dia. Dobro a rua e vejo uma cena comum, duas crianças sujas e magrinhas numa escada em frente a um prédio abandonado. Um dormia profundamente deitado no quarto e último degrau, enquanto o outro menino, de aparente sete anos, cochilava sentado em outro degrau da escada, tentava não dormir e dormia. Percorri a cena por uns segundos, tempo que meu andar reduzido permitiu. No momento meu primeiro clichê pensamento agradeceu por ter meu filho todos os dias em sonos quentes e protegidos. Mas a repugnância não tardou a alcançar meus brios humanos, e me surrou a cara. Voltei a consciência. Se quero meu filho acordado com um beijo de bom dia e adormecido com um beijo de boa noite, vou querer a todos os outros filhos também. Mediocridade ver felicidade no avesso alheio. Quero a todos os filhos o quero aos meus.


Restos de pensamentos.
Três atos alheios me emocionam: comer, dormir e ir ao banheiro. Todos estes inerentes e particulares aos seres humanos. Nesses momentos podemos nos sentir realmente humanos. Dos restos momentos nos sobram as diferenças.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

bebada de vinho. igor cha

Começo o inicio sem falar, algo extraordinario pretendo fazer. Não quero que meus dias pareçam como outros quaisquer. Que seja ato, poema, cinema, melodia. Algo que me pareça particular merece meus dias. Se eu tiver que interferir que seja ao acaso. Extraordinário seja meu longo dia. Nunca mais um dia após o outro. Sou maior que ontem, e amanhã sabe lá a inspiração. Caia sobre mim o dia enfim.

uma voz bebada cantou em meus ouvidos. Somente o que ouvi escrevi.

By beautiful Igor Chaves

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Fonte

Sempre bebi em fontes baldias. Futuros inadequados me guiaram. Ás vezes me solicitaram perdida. Meu coração sempre soube o que pensar. Minha cara aparente foi seguindo as portas abertas. Olhei as putas, os trabalhadores, os executivos. Cheguei a pensar que tudo estava perdido. Me ofereceram alguns muitos de nada coisas, e segui. Recebi tudo vivendo, violento. Não descartei. Por vezes acordei cega com a claridade e despertei com a escuridão. O tempo se colocou na minha frente e vi o balançar do vento. Vários medos me aprisionaram, mas os carinhos sinceros me colocaram no lugar pretendido. Vislumbrei a vida e ela me confirmou a presença. Vastos momentos refugiaram-se nas montanhas das minhas histórias. Me criei na sangrenta inocência. Simples como jamais imaginava.

" Há homens que lutam um dia e são bons. Há outros que lutam um ano e são melhores. Há os que lutam muitos anos e são muito melhores. Mas há os que lutam toda a vida: estes são os imprescindíveis" (Bertolt Brecht)

sábado, 25 de abril de 2009

dias pássaros

maria se apaixonou por joão. Os dois namoraram por um tempo. Após o fim, maria estremecia apaixonada. joão mal dormia, sapecava a vizinha da esquina. maria chorava inconsolada.
Muitos anos depois...
Maria acorda, vê o sol na janela e flerta os passarinhos correndo na grama, pega o periódico. e atiça suas saudades . Dias pássaros. O jornal conta: " Banda de João e sua trupe apresenta o show Afeus Saudosos, 19h00 na Muralha"
Maria constrói o dia, para penetrar a noite anunciada. Sozinha chega no Teatro Muralha, senta e espera o show. A banda percorre animadamente o local. Maria olha o rosto. O som chega e a alcança. Maria se encontra na letra, se perde na harmonia. joão não vê maria. Maria comemora a saudosa saudade. Uma pequena moça invade as poltronas, no intervalo, e convence Maria a comprar o cd da banda. Maria convence a pequena um autográfo de todos os integrantes da banda na capa do cd. O Show acaba, minutos depois a pequena chega e entrega o cd. Maria vislumbrada decide não olhar os autográfos. joão avista maria de longe. Maria ignora joão, e vai embora. A rua oferta a noite. Maria encosta num boteco e pede cerveja. O local fervilha. maria bebe todas e ouve a voz de joão. João entra no bar com sua trupe e paraliza maria. Maria esconde o rosto e bebe mais. joão vê Maria e paraliza. Barulhos embalharam os ouvidos. João e Maria se cruzam, falam um pouco e desconversam. A noite corre. Maria saí do bar e firma o andar. João amolece e bebe. maria esquece joão. joão se esquece em maria.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

devaneios

o amor não pede.
o amor é um acaso dele mesmo. acontece.
adormece na pele. acorda no sonho.
o amor desarma, amolece. dura.
o amor jamais nega.
o amor atende. desmente.
do amor sai o licor, o doce de um beijo doce.
o amor cria a leveza. esconde o ciúme.
o amor no dia ama, na noite também.
o amor distancia a dor. não espera. vive.
o amor mal fala. prefere calar. não deseja divulgar.
o amor ama.
a paixão pede urgencia.
a paixão grita, declama, escandaliza.
a paixão dorme pra amanhecer logo.
a paixão não é pra ninguém entender.
da paixão se tira o gozo, a vaidade.
a paixão bebe cachaça. acorda no breu.
a paixão foge de casa. encontra o jardim do éden.
a paixão dói, espera, vive.
a paixão nega o óbvio. mente. não atende.
a paixão se olha no espelho, e se vê.
da paixão nasce o desejo do amor.

a cidade

a cidade me criou escura esta noite
reguei as plantas, a pimenteira ardeu
dos olhos, duas lágrimas de um olho só
o outro olho não sabia sorrir ou possuir a noite
o olho só temia
a escuridão nada esclarecia

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Não me comparem com nenhuma vida.
Não tenho mais nenhuma a não ser esta.
Os casos de sucessos e insucessos pertecem a outros, a mim não
Caibo dentro de mim
Minha cruzada ninguém pode entender
Eu me sobro.

contos da Liberdade

Os contos da Liberdade se dividem em 5 temas: A puta, Loiro do metrô, Temaqueiro, Vendedor de milho, Catadora camaleoa. Vou repasssar trechos no blog pouco a pouco. Vale dizer que as histórias se criaram no meu vai e vem diário pelo bairro japonês na cidade de São Paulo, e se tranformaram dentro do meu olhar imaginário. Introduzo com o começo de A Puta.
A puta
A noite, quando as crianças do cortiço paralisavam suas atividades na Rua do Glicério, Teresa, na casa em frente, tirava as calcinhas do varal, e se preparava para o batente. Andou pela corredor, e encontrou Lia semi-nua encaminhando um barbudo para um dos quartos do casebre. Estava atrasada, e escutou um estúpido grito do patrão, sinalizando que Aparecido estava a caminho para encontra-la. Rápido desarrumou o armário, e encontrou o vestido vermelho, guardados às melhores recordações e esperanças de revivê-las. O espelho refletiu sua tez morena e cansada. Mirou seus pelos pubianos com naturalidade, não dava tempo de repara-los, e se o tivesse não faria, Aparecido não questionava certos detalhes. Calçou o salto plataforma esverdeado e foi ao encontro acertado pelo chefe. Na sala mal iluminada e enfeitada por algumas mulheres pouco trajadas, deu de encontro com um velho sisudo, e mal intencionado, que apalpou um de seus seios, exageradamente dispostos no decote. Ela sorriu e antecipou sua retirada do ambiente. Sentou-se na calçada e esperou Aparecido.

histórias do huguinho

Passeio de domingo a tarde na feira do Bexiga, em SP. Hugo, minha criança de 5 anos, se entendiava com a quantidade sem fim de objetos antigos (pra ele simplesmente objetos). Alguns brinquedos da minha geração lhe chamaram uma discreta atenção. Foi o parquinho rustico que avistamos, entre a velharia disposta a venda, que animou o moleque. No meio disso tudo, Hugo me contou a história de sua concepção:
- Mãe, você é medrosa- Diz Hugo após minha recusa a descer no escorrega-bunda.
- Meu filho. Não sou medrosa. Como posso ser, se deixei você entrar na minha barriga, e depois deixei o médico cortar e tirar você de lá?
- Mãe, eu sei como aconteceu. Meu pai foi na rua dos bebes, na época em que você não podia sair de casa. Ele me escolheu, dentre os vários bebes, me levou pra casa a noite. Você estava dormindo. Ele aproveitou o momento, pra você não perceber e não ficar brava, cortou suas costas e me colocou na sua barriga. Eu me lembro.
Freud explica.
Dando continuidade ao tema, Hugo ampliou sua historia dias depois, antes de dormir, quando conversavamos sobre crianças que moram nas ruas. Ele me explicou que essas crianças vieram do céu, pois eram brinquedos da namorada do Deus, e ela os deixou aqui na terra. Não entramos em detalhes, pois ele dormiu em seguida.

domingo, 29 de março de 2009

um pouco da gente

Como dizer que te amo? Não sei. Faz tanto tempo que passou a ser clichê falar. São oito anos, me parece. Vimos e nos encantamos, não sei qual vez. Vou contar um pouco da nossa história:
Nos conhecemos. Eu era um quadro em branco, e você um cara que adorava tomar atenções. Conversamos, olhamos e beijamos, sem poder e muito querer, no bar da esquina (moço dificil!). Me apaixonei, voçê idem. Foi bonito. Sofremos e fizemos sofrer. Começamos nossa longa história.Muitos dias, vastas noites. Conversas e descobrimentos, vários momentos.Conhecemos nossos infindáveis segredos. Presenciamos nossos corpos ardentes e rostos serenos.Você era o amor todo que eu buscava, e eu a pessoa que você esperava. Assim vivemos, por grandes tempos. Eramos o mundo, e nós dois. Dois companheiros de vida e mesa de bar. Aprendemos e mudamos juntos. Fazemos parte de nossas histórias, meu companheiro de vida e viagem.
Onde vamos agora? Você vai perguntar onde quero ir, vou responder, não sei. Então não importa o caminho, você completará. Vamos juntos, os três sem saber. O Hugo ainda não sabe que o infinito é inalcançável, mas sabe que fazemos parte dele.

sexta-feira, 27 de março de 2009

me negar?

Pois porque me negarei?
Jamais. Nem que o mundo caia sobre mim!
Se comecei um dia inútil, corrido por um bravo soco nas costas.
Segui com minhas reflexões diárias e indagações repentinas.
Não encontrei todos os meus personagens hoje
O milheiro, na varanda, vi passando. Mas o temakeiro, a puta, o funcionário loiro do metrô, e a catadeira camaleoa, não apareceram.
Tudo bem. Outros vieram.
Em Outro Lugar fui busca-los.
Eu, meu pai, Tomaz, a mulher invisível, Machado de Assis (vulgo nome poesia)
Como posso negar?
Negar a busca, as aparições?
Seria negar a um filho um passeio no parque. Uma judiação.
Só os afazeres diários indispensáveis fariam me negar.

quinta-feira, 26 de março de 2009

curto inicio

"Pestana correu a sala dos retratos, abriu o piano, sentou-se e espalmou as mãos no teclado. Começou a tocar alguma coisa própria , uma inspiração real e pronta, uma polca...os dedos iam arrancando as notas, ligando-as, meneando-as; dir-se-ia que a musa compunha e bailava a um tempo." ( trecho do conto Um Homem Célebre, Machado de Assis).

Tomaz largou o livro na cama, deixando escapar o edredon listrado no chão empoeirado do quarto. Seguiu até a escrivaninha, situada no comodo que servia como depósito da casa. Uma fraca lâmpada amarela iluminava o ambiente cheio de livros, papeis amontoados e objetos perdidos no tempo. Era noite, a casa dormia e acalentava o silêncio do repouso. Enlouquecido pelo repente, Tomaz acelerou em pegar papel e caneta. Achou umas velhas folhas um pouco amassadas e um lápis desgastado. Percorreu no vazio do papel os seus dedos longos e morenos, tomando cada espaço rapidamente. Seu olhar fixo, reforçava sua concentração nas palavras corridas, mesmo com o barulho da chuva que caia e deixava escapar do telhado uma goteira ruidosa. Não ouvia nada, mirou a janela e o descer das águas uma vez, por rápida distração . Transcrevia seus pensamentos sem interrupções.
Quanto ao trecho do conto O Homem Célebre, Tomaz podia considerar uma coiscindente inspiração. Já lera e relera quase todas as obras de Machado de Assis, mas os contos considerava desnecessários, por uma estúpida razão de achar os textos curtos demais, com conteúdos reduzidos. Mal sabia a ponte que atravessara ao começar a ler os rejeitados contos. Começou com Missa do Galo, andou pelo O Espelho e A Cartomante, e não findou o Homem Célebre. Alfinetado pelo desenrolar do último conto, teve sua intuição ordenando a corrida para o refúgio da insônia, inexplorado há muito por falta de devoção....

carolina

eu avisei
nosso amor acabaria no fundo
eu mais só, você ao sol.
nos seus olhos de dor, os meus em prantos.
na benção do amor afobado
nosso rastro partiu.
suas mãos me tocaram em vão.
já se fazia noite
quando seu sorriso escapou.
minhas palavras fugiram
e você na janela carolina,
espera pela volta inerte.
(para meu pai)

Não consegui postar o link da animação Father and Daughter.
Um vídeo que vale a pena parar um pouco pra assitir.
Sensivel, humano, ao alcance da vida de cada um.
Näo pude deixar de lembrar do meu pai, da borboleta azul que ronda até hoje nosso igarapé. Nos separamos para nos encontramos em nossas memórias, nossas ruas e histórias. Um pouco de Carolina.

violência invisível

Estava andando, leve e distraída, quando uma mulher em sentindo oposto caminhava na minha direção. Não a notei, ela sim havia percebido minha presença incomoda naquele inicio de tarde. Eu pensava onde ia almoçar, não tava afim de preparar nada e decidi que iria comprar uma salada e come-la em casa. No intermédio dos meus anseios, meus passos largos, a roupa casualmente fresca, se não fosse um pequeno furo na minha blusa (imperceptível), meus óculos escuros e cabelos rabo-de-cavalo, denunciavam uma pseudo representante da burguesia do bairro da Liberdade, em São Paulo. A outra, vinha sorrateira, sem alarde, na minha reta, pensando tudo, menos no futuro. Senti um choque nas costas, acompanhado de uma dor surpreendente. Paralisei por meio segundo e avistei aquela mulher de andar firme, mais ou menos da minha idade, antes invisível, com uma aparência de maloqueira (termo usado em são Paulo para designar moradores de rua), cabelos crespos e curtos, corpuda, de veste preta e surrada, sumindo entre os pedestres. Ela passou por mim, socou minha lombar falando algo que não entendi, e continuou sua trajetória sem olhar para trás, deixando de verificar o dano causado e a reação da sua vitima aleatória. Num súbito momento insano me preparei para correr atrás dela. Que loucura! Pegar uma guria dessas, seria como correr atrás de uma violenta surra ou coisa pior. Parei, respirei, ninguém viu aquilo, nem uma alma pra me consolar dizendo: calma, ela sempre faz isso, e é perigosa, ainda bem que você ficou quieta.
Continuei meu percurso atordoada e, agora, atenta. Todos que passavam na minha frente e atrás, se transformaram em agressores em potencial. Fechei meu punho e segui adiante. Uma lágrima furtiva caiu. Me sentia humilhada, brutalmente violentada. Nunca apanhei na vida, nem dos meus pais, quiçá as chineladas da minha mãe, que só me faziam rir de tão inofensivas, e as brigas com meus irmãos, que também não contam. Comecei a compreender, que na verdade, a maloqueira não bateu na Patrícia, pois não a conhecia, se tivesse oportunidade, talvez não o fizesse. Na verdade, aquela alma perdida atacava a sociedade boçal que a ignorava. Sabe lá o que passou na cabeça dela. Geralmente quem bate apanha, ou já apanhou. Fui o alvo perfeito, um ser (talvez pra ela) incapaz de uma reação a altura. Tão logo, me senti importante, julgada em alguma instancia por aquela pessoa infeliz. Espero profundamente, não encontra-la mais. A probabilidade existe, já que faço o mesmo trajeto todos os dias, em horários diferentes. Quem sabe já tivessemos nos cruzado?!Não vi seu rosto, não tenho como reconhece-lo. Seu ato feroz ficará gravado em mim, com um arroxeado em minha pele, que logo sumirá, e a lembrança de uma violência gratuita, menos grave do que essas que ouvimos falar todos os dias nos noticiários. Me senti vítima e algoz de uma sociedade que anda sem notar os indivíduos invisíveis. Eles procuram ser vistos e se expressam da sua maneira, reproduzindo seus delírios.

domingo, 15 de março de 2009

Musica e literatura

Sábado de uma semana qualquer. Subi as ladeiras um pouco atrasada, parei na bilheteria do teatro e pedi um ingresso. Perguntaram se era só um mesmo, não entendi, respondi que sim, quase continuando com um por quê. Muita gente bonita, e descolada. Consegui a infeliz proeza de sentar na última fila, cadeira M7. Um rio de cabeças abaixo da minha visäo, imaginava o que se passava em cada uma, cada cabeça um mundo. Estava eu em uma galaxia, esperando começar o show do Moraes Moreira. Vi aquela figura corpuda e cabeluda, de óculos escuros, um personagem. As músicas do primeiro disco dos Novos Baianos, lançado em 1968, abriram o show, intercaladas com citaçöes de trechos do livro que estava sendo lançado naquela noite: A história dos Novos Baianos e outros versos. História, poesia e música, me senti em casa. Moraes Moreira sem nenhum auxilio, declamava páginas do livro. Comecei a perceber que ele o havia escrito, pois decorara as centenas de palavras perferfeitamente encaixadas.
Adoro biografias, mas nunca confio intereiramente nelas, pois o olhar de um escritor de biografia está impresso em cada linha, por uma lógica do autor. Desconfio da imparcialidade. Desconfio da realidade, mas adoro as histórias dos outros.
O show acabou com as 400 pessoas em pé, dançando Flor de Maracujá.Näo comprei o livro, e a noite terminou emendada com o dia, regada a cerveja e boa companhia. No meio da noite, me lembrei de uma observaçao clichê de Moraes Moreira "Se Deus me aparecesse e me oferecesse a oportunidade de mudar algo na minha vida, eu diria - ótimo, se eu posso mudar algo faria tudo de novo"

quinta-feira, 12 de março de 2009

despertar da madrugada

Apesar do sono, acordei no inicio da madrugada. O sonho tinha sido bom, mas näo lembrava de nada. Aquela sensaçäo de sonho presente fazia meu pensamento permanecer sereno. Levantei para acender um cigarro, desisti. Liguei a televisäo, filmes, seriados, sexo e um concerto musical, parei de cutucar o controle remoto. Joäo Carlos Martins conduzia no piano Ennio Morricone, Cinema Paradiso. A cada nota dada com uma de suas mäos cerradas, fui compreendendo as contrariedades da vida. Um näo a sua natureza, pode significar todo o sim. Contrariar o que nos é inerente, nos torna sordidos, desleais a nós mesmos. Paixäo, este sentimento me despertou. Uma palavra que move o mundo. O sono me acariciava a cada música, e ao final de Adios Nonino de Astor Piazzola, decidi voltar pra cama. O sonho que há pouco esquecia, estava claro. Lembrava de tudo.

terça-feira, 10 de março de 2009

Changes

Mudança: participa o tempo todo da nossa vida.
As mudanças geralmente aparecem de duas formas: quando por algum fato inusitado, você sem querer é obrigado, por um acaso; ou você simplesmente, por instinto, e/ou por vontade, decide mudar.
Eu mudo täo facilmente, que nem percebo. Por instinto, vontade e fatos cabalisticos. A mudança, me vem sorrateira, solteira, solene. Eis a questäo: modificar ou näo?

sábado, 7 de março de 2009

pati por lio

Venho de algum lugar. Adoro pessoas.
Imagino o mundo o melhor possível, e tento fazer dele o mesmo.
Amo todos sem prescriçäo. As vezes me dou mal.
Levo a vida, como quem leva nada e sempre o bastante.
Nunca escrevi poesia.
Enfrento muito mais valente. Choro melhor e realmente.
Sorrio quando me dá vontade e fecho a cara quando posso.
Meus amigos säo importantes. Minha família me fortalece.
Descobri Piazzola a pouco.
Por muito pouco fico triste, e por menos ainda: feliz.
Prefiro ser feliz a ter razäo, mas adoro tê-la.
Trabalho muito e amo demais.
Näo sei viver sem prazer. Se acho pouco, pego mais.
Me apaixono todo sempre.
Uma frase inventada: Viver envelhece, mas faz bem.

terça-feira, 3 de março de 2009

A manteiga

Estavam todos na sala reunidos, quando um dos convidados levantou e perguntou a dona da casa.
"Onde fica a manteiga?" Melia de imediato respondeu. "Em cima da mesa da cozinha".
Havia muito tempo, näo conseguia reunir todos os saudosos amigos em sua terra alheia. Melia nasceu em 1950 na cidade de Igarape-Miri, no estado do Pará, e morava há 20 anos na capital paulista. Alguns dos amigos estavam na cidade especialmente para conhecer a grande metrópole e outros para comemorar os 50 anos da amiga. Naquele dia, Melia escutou todos os assuntos novos e velhos, além do sotaque cantado que a tempos se tornara peculiar. No total eram seis convidados. Quatro homens e duas mulheres. Dois ex-namorados e uma, Susana, antiga paixäo.
Roberto levou a mantegueira até a mesa da sala. Todos ansiavam comer a especialidade gastronômica de Melia, que tinha acabado de sair do forno: päo caseiro com a mortadela do Mercado Municipal. Quando Roberto abriu a mantegueira, a manteiga estava com a cor amarelo-vivo, mole, com gorduras derretidas. Näo sentiu nenhum estranhamento. Melia achou aquela manteiga uma afronta, em pleno inverno. Fazia um dia ardorosamente quente. Ela näo entendia um dia de veräo em pleno mês de agosto em Säo Paulo.
Para Melia a manteiga era seu termômetro. Sabia identificar através dela as quatro estaçöes: primavera, veräo, outono, inverno. Observava tudo pela consistência da manteiga.
Morou os 30 anos iniciais de sua vida numa cidade de temperatura constantemente escaldante.
Em Igarape-Miri a manteiga, o ano todo, tinha o aspecto maleavel e gorduroso. Nesse tempo, Melia achava que a manteiga só tinha uma consistência: a mole. Uma de suas primeiras impressöes quando chegou em Säo Paulo, em junho de 1980: a manteiga. A viu em cima da mesa, na casa da sua tia Mona, uma simpática velhinha solteirona. Mona morreu 5 anos depois que sua querida sobrinha mudou de cidade especialmente para cuida-la. Melia näo conseguia passar a manteiga no päo quentinho que sua tia tinha acabado de preparar para recepciona-la. Perguntou a Mona porque guardava a manteiga na geladeira, já que ficava täo dura e consistente, impossível de passar no päo. A velha tia gargalhou e em seguida sussurrou. "Oh minha filha! Você ainda é muito ingênua, ainda tem muito a aprender na cidade grande". Melia ficou sem entender, mas ficou quieta. Näo queria aborrecer sua tia.
Uma carta de Mona em maio de 1980, salvou Melia da confusäo que sua vida se tornara depois que a libanesa Susana declarara seu silencioso amor. Uma loucura de prazer e culpa revirava seu corpo. A cidade desconfiou. Duas belas mulheres rodopiando nas tardes ensoloradas. No igarapé, nos bancos da praça, nos terrenos baldios. A reputaçäo de Melia estava arruinada.
A carta dizia assim:
" Minha querida sobrinha,
Näo sou muito boa nas palavras, mas minha saudade de Igarape-Miri vence todas as barreiras. Näo tenho mais saúde de ir até minha terra e rever meus belos momentos. Näo tenho herdeiros e ninguém pra me acolher. Gostaria que você viesse pra cá, morar. Faria bem pra você, e pra mim. Nós, pobres mulheres solitárias.
Aguardo sua presença e deixo cruzeiros para sua viagem."
Os pais de Melia acharam a idéia pertinente. Afinal, vislumbravam enfim um futuro palpável para a filha solteira e perdida. Melia passou quase 4 dias dentro do ônibus. Chorou nos dois primeiros. No terceiro dia começou a sentir o friozinho das terras do sul e se animou. Conseguiu comprar um fino agasalho no meio do caminho. Terminou a viagem aquecida com pequenas doses de pinga e um velho cobertor que lhe acompanhara a travessia toda.
Susana ficou desolada. Uma semana depois do brusco adeus de Melia, se entregou a Igreja da comunidade, deixando as beatas senhoras escandalizadas.
Depois de 20 anos, Susana, Melia e todos os velhos amigos estavam juntos outra vez. No meio disso tudo, a pobre manteiga inconsistente, naquele estado, em pleno inverno, näo era coerente.
Todos riram com as observaçöes de Melia sobre a manteiga. Apenas uma pessoa näo riu. Susana estava seria e envelhecida. Sua boca enrugada se abriu e falou. "A manteiga insistentemente em nosso päo de todos os dias. Mole e impregnante quando se esbarra na faca, suja a toalha da mesa e nossos dedos, e enfim penetra no päo. Näo poderia jamais endurecer".
Ficaram todos uns segundo paralisados, sem compreender.
Depois riram até o final do dia.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Viva a espontaneidade

Posso ouvir todas as musicas que näo entendo. Posso ficar sem comer. Mas nao consigo aturar as mentiras. Morte a métrica. Hoje nao quero saber porque escrevo, e se a cafonice, o lugar comum, cruza por vezes meu caminho. Nao permito interrupçöes. É o meu processo. Näo falo nada, fico quieta. Perturbar alguém näo me alcança. Me pertubo todos os dias, e por hora me basta. Sou capaz de perdoar um livro esquecido na estante, mas näo jogado no lixo. Vou continuar calçando meu tênis e caminhando com os cabelos desgrenhados. Morremos mais pelo que nos fazemos, do que pelo que os outros nos fazem.
nem sempre bela
nem sempre contente
me deixe em paz
me deixe um pouco triste assim
sem sorrir
sem saber o que fazer
e querer todos bem longe
se cale
quando me ver assim
me olhe
apenas
e me deixe
a solidäo me cansa
mas me pertence.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Poesia Perdida

Perdi uma poesia
Um momento inteiro
Por não lembrar
Por não sentir
Um tempo que se esqueceu
Somente na memória do poeta restou
Uns fragmentos
A pequena lembrança do que se foi
E ficou pra não lembrar
Nunca mais
Um sono tão perfeito e lúcido
Partiu

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

No final do dia, duas cores permaciam: azul e laranja. Näo se tocavam. As nuvens tomaram as duas cores, o cëu se misturava. Nada descritivel. Comecei a pensar que nao era nem dia e nem noite. Que diabos era? Imaginei um eclipse desavisado. Näo era.
Chamei meu filho para assitir incomum espetáculo, e falei:
- Hugo, vem ver. O sol näo quer ir embora hoje.
Ele disse da sala:
- Eu sei mäe.
Mesmo assim andou até a varanda, parou, olhou por uns segundos, e completou:
- Acho que o sol se apaixonou pela lua, e hoje eles väo casar aqui em Säo Paulo.
Nao tinha lua, eu entendi, achei lindo e me apaixonei por mais um dia.
Frases imcompletas...completo. Flutuo na net. Me seguro em pequenas questöes.
Olho para os lados: pessoas.
Näo olho, vultos passam nas minhas costas.
Nada como um beijo calmo.
As mäos por vezes dançam em seus aparelhos modernos de escrever.
Os rostos se abrem e fecham com a mesma agilidade que desembestam a falar.
Uma parada estratégica para pequenas atençöes, e volto a mim.
Risos, portas batendo, odores queimados norteiam o ambiente.
Cansativas horas que näo passam.
Desperdicio de tempo, vida?

Música ao meio dia


A música me sequestra numa quinta-feira qualquer da semana, no meio do dia. Paro para ouvi-la. Assim como o amor, a música só existe quando vocë pára para ouvi-la.
Foi assim que cheguei no Concerto ao meio dia, no Centro Cultural de Säo Paulo.
Show do Quarteto Tau. Quatro violöes e quatro simpáticos musicos. No repertório: Tom Jobim, Villa Lobos, Astor Piazzola, Radamés Gnatalli, Bach, Sergio Assad, Chico Buarque, entre outros.
Me lembrei do meu velho quarteto de amigas: um aparentemente sábio, quieto e reservado senhor (eu); um belo jovem timido, seguro do seu valor (Ericka); um moreno faceiro, feliz por estar ali, dificil descreve-lo (Lorena);porta-voz da turma, empolgado e cheio de coisas pra tocar e contar(Michelle). Minhas velhas amigas que me perdoem, mas foi essa minha leitura.
Um dia essencial, como tantos. Dedilhado, nota, melodia, chuva...
Uma delicia ouvir, e ver outros tantos fazerem o mesmo.
Dias com músicas, dias mais leves.
Fica a indicaçäo.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Näo te vejo

Täo perto te vejo na cama dormindo
Täo longe, näo te enxergo
Já saiu correndo para trabalhar
Um banho mal tomado, uma comida mal engolida,
um cigarro bem tragado
Espero por vocë
Na volta näo te vejo
Estou com os olhos pregados e a campainha de longe me chama
Imagino, sonho
Sonâmbula levanto, para o meu amor entrar
A manhä enuncia, mais um dia
Olho para o lado
Espaçosa me sinto na cama
Bebo mais um gole
Cançöes, palavras, telefone
Nossa música toca
Em que paisagem te encontro?
Vocë se lembra? Onde me escondo? Onde me acha?
Me pergunto, se vale, a vida, assim
Preciso de você aqui
Precisas de mim em algum lugar
Respondo, enfim, é assim
Nós näo sabiamos e queriamos
Como esta noite acabará?
Como todas
Eu täo perto e ele täo longe
Se a noite falar, calará em nós, sós.
O raio de sol nos encontrará.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Beatriz









Consigo te achar em todas
Pra nao te esquecer, me abrigo em qualquer estrela
Peço qualquer bis
Sei que posso entrar em várias vidas
Vou te encontrar, atriz, pintura
Se voce chora por mim, nao o faça
Preciso de amores que andem com os pes no chao
Na minha mao nao há perigo.
Se voce despencar do ceu, vou passar o chapeu
Tantas Beatrizes já cantei
Näo se iluda.
Se eu pudesse entrar na sua vida, como pertenço a outras quaisquer.
Por um triz.
Se é o contrário, se é loucura. Dance no sétimo céu, decore o seu papel.
Me leva embora
Pois já ando sem o pes no chäo pra sempre, Beatriz.

Um sol qualquer

Hoje o sol apereceu. As chuvas deram um pouco de trégua. A cidade em movimento. Corre pra lá , corre pra acolá. Algumas pessoas ainda insistem em desacompanhar o fluxo e atrapalham a correria. Licença, ouço e proclamo. Olhares preocupados, caras engravatados, saltos testemunham suas longas saias, mochilas, sacolas, pessoas enlouquecidas, aahhh. Preciso chegar a tempo.
Buzinas, sinal fechado. Uma multidao atravessa a rua. Vou.
Chego na hora, depois de uma hora e meia de travessia.
Concluo que resolver os pepinos é mais fácil, e mais gostoso, que atravessar a cidade.
O medo de voltar, e enfrentar o pior, me fazem parar ao ouvir um certo jazz. "Don't fence me in" Nao escuto essa musica todo dia, faz mal para o meu figado. Perdida e acolhida, ouço tudo da noite.
Chego em casa abobalhada. Me acostumo com meus dias. Suaves notas me acompanham.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Nada de especial


Hoje näo preciso escrever nada especial. Vou escrever o que me vem.
Me sinto em um blog.
Conversar. Vamos falar?
I Can't take my eyes of you. Prefiero no sacar mis ojos de usted.
Começo meu dia no amanhecer de mais um dia chuvoso em Säo Paulo.
O frio e o descrente nublado.
Acordo de fato. Levanto. Bebo agua. Me olho no espelho. Me vejo.
Mais um dia. Tenho medo do que?
A claridade envolve a casa. A sala celebra a casa.
Abro as cortinas e a luz entra sem receios.
Encontro a porta entreaberta.
Alguém se foi.
Fecho a porta. Acabou. Uma solidäo a mais e a menos. Uma solidao só.
Tempo, tempo...
O sol me chama. Encontro figuras.
Penso na Primavera. Täo longe.
Carnaval. Canto e danço pelas ruas da Liberdade.
Com pandeiros nas mäos, gueixas e samurais no caminho me abrem passagem.
Um lamento de blues me encanta. Deixo umas moedas no caminho.
Um amor que amo, me ama mais. Amo mais ainda.
Deixo meu dia correr.
Saudades do ontem. Leveza no amanhä.
Só quero que a música näo acabe...

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

O Porteiro

Um porteiro
passava noites solitárias
na sua casinha de porteiro
Até que um dia ele notou uma ilustre moradora
Algumas vezes na semana, ela chegava tarde da noite
Via o céu limpo, estrelas e lua cheia
Ela quase sempre chegava descabelada
raras vezes dava boa noite, de täo cansada e apressada
de vez em quando parava para pedir correspôndencias
era um martírio ouvir sua voz
Suas vidas continuaram
e sua labuta diária o conformou
Um dia tudo confirmou,
um simples táxi chegou
era de madrugada, e logo pediu pra chamar o amor
nem precisou, lá ela vinha
linda, cabelos molhados e sorrisos
um bom dia e seu perfume ela deixou
Começou a constatar que aquela linda mulher também sofria de amor
Quando ela cansada entrava
no circuito interno ele a acompanhava
sempre solitária
ela pedia cerveja, e só continuava
Um dia seu homem chegou, ele a seguiu e abriu a porta do elevador
eles entraram, subiram, e sumiram
O porteiro esperou, e um tempo se passou
ele subiu, sentou na porta da morada da amada
ouviu, as mais belas cançöes
descobriu o amor, de tâo perto
inalcançável
era Lindo.

Olhares

Sou o oposto ao que vejo no espelho
Ou exatamente
Ou o que quero ser
...Ainda sou o quero ver
Vários olhares me personificam
Me olham de qualquer jeito
Impensado, calculado, inesperado...
Isso me parece liberdade
Deixo todos a vontade para olhar
O instante merece ver alguma forma
Me coloco a disposiçäo dos olhares desprenteciosos,
maliciosos, curiosos, contagiosos...
Podem olhar
Estou aqui...

Passado

Algumas coisas se passam com a gente como se fosse ontem
como se eu pudesse lembrar do passado
esse termo tão remoto
Como se tentasse me refugiar em algo que se foi
quase abraçando uma alma
Não me faço lembrar de forças que governam o mundo
Não quero quero gostar de palavras que me apaixonei
e de beijos que nunca mais terei
Não devo sentir em um corpo que já foi meu
uns pensamentos que perderam a coragem
Uma estrada passou

Cigarro


Alguns amigos reunidos e somente um comentário junto a fumaça do cigarro:

Ric comenta:
- Quando você vai parar de fumar?
Respondo:
- Näo me enche a porra do saco.
Instantaneamente a culpa pela resposta torta me atingiu.
- Olha Ric, falo assim por nossa grande intimidade de amigos. Se eu ouvisse a mesma pergunta por outras pessoas, as respostas corresponderiam a cada caso. Por exemplo:
Minha sogra:
''Eu sei que faz mal, a senhora já fumou e também sabe. Tô tentando parar e vou parar"
Mäe:
"Pára mäe, me deixa"
Irmä:
"Mana, näo adianta falar para eu parar, vc é médica, vc sabe que é um vício, eu vou me tratar"
Filho:
"Fumar é feio, näo pode"
Companheiro:
"Vamos parar juntos? So paro se vc tambem parar"
Amigos näo intimos e näo fumantes:
"O stress da vida moderna é foda, além do vício"
Amigos fumantes (quase sempre, super íntimos):
"Vocë sabe como é difícil viver sem, me incomoda tanto. Falando nisso, vamos fumar um?

Uma menina

Uma menina eu vi, sentada no metrô.
Ela tinha sapatos molhados e o rosto baixo.
Parecia tristeza.
Essa menina que vi triste, me olhou rápido e näo quis mais ver.
Sabia, se importava comigo.
Nao queria me deixar triste. Me viu olhando, e desviou.
Seu rosto sorriu, e seus olhos começaram a falar.
Brilhantes e vermelhos, assim eram. Estavam tentando engolir lagrimas.
Procurava acreditar que aquele dia ia passar.
Seus movimentos cansados pediam paz.
Repentinamente levantou com toda coragem.
Pareceu estar viva.
E se foi.
Essa menina de olhos contidos tentou näo me deixar triste.
Ela tentou.
Gritou dentro de mim.

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