quinta-feira, 26 de março de 2009

curto inicio

"Pestana correu a sala dos retratos, abriu o piano, sentou-se e espalmou as mãos no teclado. Começou a tocar alguma coisa própria , uma inspiração real e pronta, uma polca...os dedos iam arrancando as notas, ligando-as, meneando-as; dir-se-ia que a musa compunha e bailava a um tempo." ( trecho do conto Um Homem Célebre, Machado de Assis).

Tomaz largou o livro na cama, deixando escapar o edredon listrado no chão empoeirado do quarto. Seguiu até a escrivaninha, situada no comodo que servia como depósito da casa. Uma fraca lâmpada amarela iluminava o ambiente cheio de livros, papeis amontoados e objetos perdidos no tempo. Era noite, a casa dormia e acalentava o silêncio do repouso. Enlouquecido pelo repente, Tomaz acelerou em pegar papel e caneta. Achou umas velhas folhas um pouco amassadas e um lápis desgastado. Percorreu no vazio do papel os seus dedos longos e morenos, tomando cada espaço rapidamente. Seu olhar fixo, reforçava sua concentração nas palavras corridas, mesmo com o barulho da chuva que caia e deixava escapar do telhado uma goteira ruidosa. Não ouvia nada, mirou a janela e o descer das águas uma vez, por rápida distração . Transcrevia seus pensamentos sem interrupções.
Quanto ao trecho do conto O Homem Célebre, Tomaz podia considerar uma coiscindente inspiração. Já lera e relera quase todas as obras de Machado de Assis, mas os contos considerava desnecessários, por uma estúpida razão de achar os textos curtos demais, com conteúdos reduzidos. Mal sabia a ponte que atravessara ao começar a ler os rejeitados contos. Começou com Missa do Galo, andou pelo O Espelho e A Cartomante, e não findou o Homem Célebre. Alfinetado pelo desenrolar do último conto, teve sua intuição ordenando a corrida para o refúgio da insônia, inexplorado há muito por falta de devoção....

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