sábado, 28 de agosto de 2010

bela matisse


Bela Matisse Lio Chaves
(by Patricia e Hugo Lio Chaves)

Matisse foi o primeiro nome que elegi para minha gata amarela e branca. Em seguida meu filho quis trocar seu nome por Bela, bati o pé e sugeri Bela Matisse. Dias depois a bichana já era da família e levou o sobrenome.
Matisse foi um presente que ganhei do acaso, quando meu filho e Igor estavam passando férias de julho em nossa cidade natal, Belém. Ela estava na portaria do meu prédio quando cheguei de um happy hour. O portão se abriu, a gata miou e acariciou minha perna. Judiação, deve estar fome, pensei. Perguntei ao porteiro o que ela fazia ali, ele disse que há um mês estava vagando pelo prédio, de vez em quando comia uns pedaços de pizza que sobravam, e brincava com as crianças. Subi com a gata até o apartamento, preparei um bife e ela devorou ferozmente alguns pedaços, não satisfeita andou com suas patas de gata pelo apartamento inteiro, parecia sua casa.

Não tinha a intenção de criar um gato, além do que, Igor não os simpatizava. Peguei a gatinha no meu colo e levei-a de volta para o térreo. A bichinha miou e arranhou com desespero a porta de
vidro que fechei para nos separar. Não tive saída, abri a porta e agarrei a bonita.

-Vou cuidar de você, e você da nossa família, pensei em voz alta e embriagada.
Nem sabia que ela era gata ainda, por isso pensei em chamá-la de Matias, logo mudei de idéia e optei por Matisse, em homenagem ao pintor Henri Matisse, além do nome ser útil no sexo ainda indefinido.
Um mês depois, Matisse já é da família. Hugo não larga a bichana e a inclui em algumas de suas brincadeiras, e vice-versa. Igor ainda anda em negociação, mas cuida dela melhor que eu.

Estava a tempos pensando em ter um bicho de estimação, mas não tinha coragem de assumir o compromisso. Matisse apresentou-se, arriscou-se a uma possível e previsível cuidadora, não consegui recusar. Agora, também faz parta do Outro Lugar ao sentar no meu colo enquanto escrevo.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

sonhagem


Sonhei que estava na beira de um penhasco e tive vontade de pular. No sonho, meu desejo era tão verdadeiro que me atrevi a realizar tal vontade. Pulei e comecei a cair, cair, cair. No meio da trajetória me dei conta da merda que tinha feito. E agora? Vou morrer! Pensava em pânico. Nesse desespero inenarrável percebi que estava sonhando. Sonho?
-Isso, meu bem! É um sonho, não precisa se preocupar, você pode acordar quando quiser!
Falou-me a voz da minha aparecida consciência sonhante. Relaxei e não lembro o que aconteceu em seguida. Acordei e segui meu rumo.

Tempos depois, conheci Ismália em um momento de descontração boêmia entre amigas de trabalho e coração, quando uma delas, Pati (com esse nome não podia esperar menos), após ouvir meu relato quase junguiano do sonho, recitou, em voz leve, a poesia Ismália.
A noite experimenta e coloca todos os poetas de pensamentos e ideais longe de sua cotidianidade e perto da inquietude humana. Podemos flutuar em paz e reduzir culpas e culpados de todo dia. Pulamos, curtimos, caímos, sofremos e acordamos quando quisermos, pois a vida se não é sonho, tem todas as suas melhores características. Umas poucas cervejas depois da labuta, não há quem pague!



Ismália

Alphonsus de Guimaraens


Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...
Pelo olhar o escritor experimenta a vida dos outros.

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